Para
Sara Massuanganhe, secretária de formação, Samora Machel foi um líder
nato, exemplo de liderança que devia ser seguido por muitos, não só a
nível político como também a nível das organizações.
“Samora não era um líder de gabinete. Fazia ofensivas organizacionais e
políticas. Visitava directamente as instituições, mantinha contacto com
os trabalhadores e, a partir disso, conseguia ter a real dimensão do
pulsar do país”, exemplifica.
Um dos ensinamentos por ele deixados e que inspira Sara Massuanganhe é o
alto nível de exigência. Ele era uma pessoa extremamente exigente,
carácter que contribuía para dar um ritmo diferente nas unidades de
produção em diferentes frentes. A luta pela perfeição era palavra de
ordem. “Pessoalmente adoptei esse modelo de ser e estar não só na
organização onde trabalho como também em tudo: muita exigência”, frisou.
Adianta que Samora incutiu valores que hoje podem não fazer sentido,
sobretudo para os mais novos, mas que eram importantes para o
desenvolvimento são da juventude, principalmente nas escolas”. Falo de
pintar as unhas, maquilhagem, entre outros hábitos.
Quando recebeu a notícia da morte do primeiro Presidente Sara já
trabalhava na Empresa Moçambicana de Seguros (EMOSE). Conta que os
colegas juntaram-se num departamento onde havia um rádio e, confirmado o
facto, seguiu-se o momento de choros e desespero. “Parecia termos
perdido um pai biológico”.
Morreu pobre por ser íntegro - afirma Azarias Langa, funcionário público
UMA
das particularidades de Samora Machel que marcou pela positiva Azarias
Langa, funcionário público, foi a sua qualidade de visionário. “Mesmo
sem qualificações académicas conseguia ler e prever situações que hoje
estão a acontecer. Prova disso são os discursos que proferia, condenando
e desencorajando certos comportamentos nocivos à sociedade que,
infelizmente, hoje estamos a presenciar a vários níveis”, disse.
Conta que conheceu Samora Machel ainda criança, mas orgulha-lhe o facto
de ter tido oportunidade de manter contacto com ele por várias vezes,
tendo nalgum momento apertado a sua mão. Mas, acima de tudo, apreciou o
facto de ele ter lutado em prol de um ensino inclusivo, que permitiu
juntar as crianças de todos os estratos sociais num só objectivo: a
formação do Homem novo.
Foi uma filosofia que funcionou pois, segundo explica Langa, muitos que
viviam em zonas recônditas e que dificilmente poderiam ter acesso ao
ensino, sobretudo nas classes mais avançadas, conseguiram se formar.
“Tudo o que sou hoje foi graças a esse espírito inclusivo que Samora
tinha e que estendeu-o para todas as crianças moçambicanas, desde o
filho do mais humilde camponês até ao dos cidadãos prósperos do meio
urbano, sem nenhuma discriminação”, recorda-se.
Sobre o segredo da simpatia de que granjeava em muitos círculos Langa
disse ser fruto do seu carisma e, sobretudo, da atenção que tinha pelas
pessoas, independentemente do seu nível de vida, meio e/ou posição
social. Por conta disso muitos queriam estar perto dele, pois não era
todos os dias que se tinha sorte igual.
Realça que como ser humano e dirigente poderá nalgum momento ter
cometido falhas mas importa neste momento salientar os aspectos
positivos que podem ser seguidos como exemplo e ajudar a sociedade
moçambicana.
A sua integridade foi uma grande lição para muitos. “Samora morreu
pobre por ser um homem íntegro e por essa foi uma grande lição de vida”,
disse.
Sobre os fenómenos que Samora combatia veementemente Azarias Langa
menciona a corrupção, palavra que no passado tinha, sob ponto de vista
prático, um significado e dimensão diferente do que tem hoje, ao ser
relacionado com o uso indevido de bens do Estado e não só.
“Nessa altura a corrupção tinha apenas conotação com homens que tinham
mais do que uma esposa, pois isso era socialmente condenável”,
salienta.
Sobre a morte do primeiro Presidente o interlocutor disse ter sido um
momento pesado para todos, uma verdadeira perda. “Pessoalmente chorei
como se tivesse perdido o meu progenitor. Tinha apenas 16 anos mas fui
participar nas exéquias”, finalizou.
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