O nosso pequeno mas pacífico país é diariamente ameaçado pelos grandes
poderes gananciosos e preconceituosos cuja fome pelo domínio e controlo de
outras nações e dos seus recursos não conhece limites. Robert Mugabe citado
por Tom Burgis - A Pilhagem de África, 2016, p. 323.
Despreocupado fiquei quando mensagens postas a circular nas redes sociais
davam conta de um hipotético golpe de Estado no Zimbabwe, pois sabia que se
tratava de mais uma infrutífera campanha para derrubar o presidente Robert
Mugabe do poder. Há mais de uma década que alguns países predadores procuram,
recorrendo a todo o tipo de veneno, destruir as conquistas da independência do
Zimbabwe. Mugabe resiste e persiste porque quase toda a população do país está
com ele, exceptuando alguns lacaios e escumalhas que estão ao serviço desses
países predadores. Esses arruaceiros têm dias contados no Zimbabwe. É mister o
adágio shangana: “Quando não gostas do Régulo, migra.” O mesmo se
aplica no caso do Zimbabwe: quem não gosta de Mugabe, migra.
Não são democráticos os que, sentindo-se injustiçados num processo de
desenvolvimento democrático (sem a corrupção semântica do termo), atiram pedras
contra edifícios públicos, queimam viaturas, pilham bens e matam compatriotas,
cujo objectivo final consiste em derrubar o presidente Mugabe e apossar-se das
riquezas do país, nomeadamente níquel, platina, ouro, diamantes e terras
aráveis, até mesmo o POVO que outrora serviu de besta do colonialismo.
Nunca ouvi de nenhum panegirista desses países um comentário de condenação
contra os seus “patrões” por terem colonizado o Zimbabwe. Foram 500 anos de
escravatura e de chicotadas contra os zimbabweanos. O meu amigo Nkulu, poeta e
historiador, lembra que “O chicote do tamanho de jiboia visitou todas as
nádegas negras, sem discriminação de sexo. Na cultura africana, a nádega duma
mulher é um talhão exclusivo do marido, mas o chicote do colono aí visitou e
deixou rastos indeléveis. Na dor germinaram os rancores.”
Permita-me, caro leitor, um breve paralelismo com o comentário de Sérgio
Vieira (citação de memória): “Os crimes de guerra não prescrevem. Até hoje
antigos nazis são julgados e condenados. Gente de 90 anos é julgada e
condenada. Ouvirem alguma vez um só colonialista português, uma só PIDE, um
agente da Rodésia, um só agente da África do Sul do apartheid, ser
procurado pelo Tribunal Pena Internacional? Uma só vez, meia vez, ¼ de vez, um
centésimo de vez. São protegidos por
quem?” (SV, STV,
15/08/2016, sublinhado meu).
Reconheço publicamente uma vantagem dos arruaceiros (acólitos dos países
predadores) que é a fertilidade em destilar o ódio contra bons samaritanos
(zimbabweanos seguidores de Mugabe). Aliás, o melhor que eles sabem fazer
(panegiristas do mal) é criticar o líder carismático do povo (Mugabe), que
libertou o país dos algozes ocidentais. E porque a bênção divina lhe assiste,
mantém-se no poder contra todas as correntes do mal. Doa a quem doer, este é o
veredicto da História: Mugabe está a dar uma valiosa lição de governação ao
edificar pedra sobre pedra um Zimbabwe novo e próspero para todos os zimbabweanos
e africanos em geral.
É evidente que nem tudo corre bem no Zimbabwe. O país viveu algum estado de
graça proporcionado pelos antigos colonizadores. A falsa paz entre os antigos
colonizadores e os escravizados durou pouco tempo, até que os negros um dia
disseram basta: “queremos ser nós próprios a pilotar a naus da nossa vida.” Na
verdade, a sentença já estava feita na antiga metrópole, só faltava a execução,
caso a exigência do povo oprimido fosse a independência total e completa do
país. E assim aconteceu: transformaram o Zimbabwe num país falido e falhado.
Havia também a pretensão de confirmar o paradigma hegeliano, segundo o qual os
africanos, sozinhos, não fazem História. Talvez o único erro de Mugabe foi o de
acreditar na falsa santidade dos antigos imperialistas. De facto, Mugabe
ignorara, nesse estádio, a lição de ouro: “Nunca se pede aos inimigos da
liberdade, que sejam os fiadores dela.”
Enquanto propriedade da antiga potência colonizadora, Zimbabwe prosperou
assente numa riqueza fictícia. Os farmeiros brancos actuavam como “pontas de
lança” dos poderes económicos e políticos instalados nas grandes metrópoles
ocidentais, com enfoque para Londres. Os indicadores económicos positivos
escondiam a nudez da escravatura e da selvajaria que impunham ao povo
zimbabweano. Ou seja, uma grande maioria da população negra tinha o que comer
mercê do trabalho forçado (xibalo) nas extensões de terras dos farmeiros
brancos. Contudo, carregavam consigo uma mágoa e rancor que ainda hoje
permanecem indeléveis no coração dos zimbabweanos.
O povo deve compreender que o que gostaríamos que acontecesse supera
sempre o que acontece. É por isso que nascem inconformismos e desafios. Se
a luta de Mugabe fosse apenas contra a pobreza, penso que Zimbabwe seria hoje o
celeiro do mundo. Infelizmente existe outros empecilhos que devem ser
removidos, entre os quais a vontade dos países predadores ocidentais de
conquistar e dominar o povo pela via de manifestações de rua, chantagens
políticas, criação de partidos e políticos fantoches, sanções e embargos
económicos, etc., que culminarão com a usurpação do coquetel de recursos que o
país depõe em abundância. Há que concordar com a frase do economista americano
James Galbraith “O paciente está a recuperar de uma doença mortal e ainda
assim a imprensa está a atacar o remédio...”
Alguma vez eu disse aos meus leitores o seguinte: Existe uma forte neura
contra o presidente Mugabe. O objectivo não é apenas derrubar Mugabe, mas, sim,
fazer do Zimbabwe um rampa para invadirem os países africanos portadores de
importantes recursos naturais. Eis uma lição para Moçambique.
Zicomo e um forte abraço nhúngue ao Quembo, amigo da velha guarda.
P.S.: Federalismo em Moçambique, na actual conjuntura política?
Experimentem. Seria o mesmo que entregar a chave do galinheiro (país) ao lobo
(braço armado da Renamo). Lembre-se,
caro leitor, que um bandido nunca aposenta.
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